Você sabe dizer “não”? Não? Então aprenda com Matias. Aos 16
meses de idade, “não” é uma das palavras que ele mais domina na língua
portuguesa.
Já foram tantos “Não coma essa caca do chão”, “Não jogue
água fora da mamadeira”, “Não põe a mão no cocô”, não pra isso, não para
aquilo, não para quase tudo, que a palavra entrou logo para o vocabulário de
Matias.
Apenas recentemente li um artigo de um conceituado pediatra
que dizia que os pais não devem falar tantos nãos para os bebês. Isso faria com
que o significado da palavra ficasse banalizado e o bebê poderia ou desconsiderá-la
ou superutilizá-la. Tarde demais para nós desta Ilha Maternália. Matias tomou o segundo caminho - o da chuva de
nãos.
Enquanto tentamos ensinar a utilidade de outras palavras
como o “sim”, nos resta decodificar o significado de cada “não”. E são vários os
tipos e as aplicações dessa palavrinha mágica.
Há os nãos bem categóricos, ditos de forma clara e seca, com
a cabeça balançando de um lado para o outro, e que, em geral, estão associados
à interrupção de uma atividade prazerosa:
“Matias, vamos embora do parque?”
“Não”.
Também existem os nãos que acontecem no meio de alguma
brincadeira ou atividade lúdica. São, em geral, mais curtos e agudos:
“Matias, é aqui que encaixa a bolinha?”
“Ná."
Percebo alguns nãos duvidosos, aplicados em situações de dissimulação,
que em geral acompanham um arregalar de olhos:
“Que cheirinho, hein, Matias! Fez cocô?”
“Não?!”
Matias possui nãos enfáticos muito eficazes contra uma mãe insistente
com sua alimentação. Esses, em geral, são acompanhados por uma cara feia e um
aceno negativo de mão:
“Quer mais feijão?”
“Nãããããããoo.”
Há os nãos que ecoam uma bronca. Matias repete a palavra como
uma tentativa de aliviar a repreensão:
“Não pode subir na estante. Nã-nã-ni-nã-não!”
“Nã-não.”
Tão importantes quanto os nãos que querem dizer “não”, são
os nãos que dizem “sim”. E Matias é mestre neles. Agudos e mais prolongados,
lembram bastante um miado e são acompanhados por uma risadinha. Eles acontecem,
por exemplo, quando Torero ataca Matias com uma chuva de beijos e depois
pergunta:
“Posso dar mais beijo?”
“Nááááááum... hihihi.”
“Mas eu dou assim mesmo, schumack!”
“Hihihi... náááááum.”
Mas entre todos existe um não que me preocupa. É um não
doído, sincero, que vem lá do fundo da alma. É um não inquestionável, com a voz
baixa, olhar penetrante, cabeça e mãos em negação. Ele surge com uma experiência
desagradável. E pode vir acompanhado de
choro. Aconteceu quando Matias provou meu frango com damasco, quando tomou –
sem querer- uma chuveirada fria durante o banho e quando viu pela primeira vez o
Papai Noel em carne, osso e fantasia.
“Mamãe, não. Não.”
Nessas horas, pego Matias no colo, com todo o aconchego que
posso dar, e fico abraçada com ele por um tempão, até a sensação ruim passar. E
se me perguntarem se estou cansada de segurá-lo ou se quero deixá-lo descansar em
algum lugar, minha resposta será sempre a mesma: “Não.”
Matias vira um leão quando diz "não".
oi, amiga!
ResponderExcluirpassando aqui depois de um loooongo gap :)
a técnica do abraço-amasso-sem-largar dizendo ininterruptos eu-te-amo sempre funcionam (ou assim eu creio!)
beijos de damasco <3
amor,
m.