sábado, 6 de dezembro de 2014

O emprego mais difícil do mundo

Eu fui uma workaholic. Durante mais de uma década, vivi apenas para o trabalho.

Eu era o sonho de qualquer empresa. Não só porque colecionava diplomas, porque falava várias línguas, porque tinha cursos e experiência de trabalho no exterior, ou mesmo porque eu topava desafios cabeludos por uma remuneração pífia.

Mais que tudo, eu era interessante porque estava sempre disponível.

Cheguei a ter três celulares: um pessoal, um da empresa e outro emergencial, uma espécie de telefone vermelho, para assuntos de suma importância. Assim, era comum receber telefonemas em horários obscenos e trabalhar madrugadas adentro para cumprir prazos inatingíveis.

De segunda a segunda, sem horário para começar nem terminar de trabalhar, dei o sangue, o suor e a saliva pelo sonho de construir uma carreira. Fui criada para ser o modelo da mulher independente que toma suas decisões.

A vida no mundo corporativo não me trouxe dinheiro, nem fama, nem poder, mas pagava as contas. Eu liderava projetos, fazia análises, estudava as organizações. Apesar de muitas vezes não amar um ou outro trabalho, estava capacitada para minhas funções e me sentia segura com isso.

A vinda para a Ilha Maternália me tirou da realidade corporativa.

Como Matias nasceu prematuro e precisou ficar um tempo na UTI, tive que abdicar do trabalho para cuidar dele.

Assim me tornei uma mammaholic. Durante mais de um ano, passei a viver exclusivamente para Matias.

No começo, achei que seria a maior moleza. Eu esperava viver na Ilha Maternália debaixo de sombra e água fresca, apenas lambendo minha cria. Seria como férias não remuneradas. Ou uma pausa justa e merecedora na vida de quem acumulou horas extras demais no trabalho e nunca tinha sido premiada por isso.

Ledo engano.

Matias virou meu maior cliente, exigindo dedicação total em tempo integral. Não há férias, nem fins de semana. Ele vem em primeiro lugar e seu lema é “satisfação garantida ou um choro de volta”.
A intensidade do trabalho piorou. Agora ele também envolve um componente físico, ou seja, correr o tempo todo atrás de um bebê que vive seu momento de “mobilidade com ignorância”. De segunda a segunda continuo sem horário para começar nem terminar o dia. Não há salário, mas tenho a maior responsabilidade do mundo.

Nos últimos meses, retomei o lado profissional. Estou tentando reinventar meu trabalho e adotei o home office como caminho. Os projetos estão escassos, a remuneração, pífia, mas é o preço de ficar mais perto de Matias.

Dia desses ouvi um amigo falar de mim para um ex-cliente, por telefone. Entre uma e outra brincadeira com meu ganho de peso, ele resumiu em uma frase sua visão sobre a dedicação à maternidade: “A Rita? Ela não fez nada no ano passado, mas agora voltou a trabalhar.”

Ser mãe é o emprego mais difícil do mundo. E, para piorar, é um trabalho invisível.

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