Eu fui uma workaholic. Durante mais de uma década, vivi apenas
para o trabalho.
Eu era o sonho de qualquer empresa. Não só porque colecionava
diplomas, porque falava várias línguas, porque tinha cursos e experiência de
trabalho no exterior, ou mesmo porque eu topava desafios cabeludos por uma
remuneração pífia.
Mais que tudo, eu era interessante porque estava sempre
disponível.
Cheguei a ter três celulares: um pessoal, um da empresa e outro
emergencial, uma espécie de telefone vermelho, para assuntos de suma
importância. Assim, era comum receber telefonemas em horários obscenos e
trabalhar madrugadas adentro para cumprir prazos inatingíveis.
De segunda a segunda, sem horário para começar nem terminar
de trabalhar, dei o sangue, o suor e a saliva pelo sonho de construir uma
carreira. Fui criada para ser o modelo da mulher independente que toma suas decisões.
A vida no mundo corporativo não me trouxe dinheiro, nem
fama, nem poder, mas pagava as contas. Eu liderava projetos, fazia análises, estudava
as organizações. Apesar de muitas vezes não amar um ou outro trabalho, estava
capacitada para minhas funções e me sentia segura com isso.
A vinda para a Ilha Maternália me tirou da realidade
corporativa.
Como Matias nasceu prematuro e precisou ficar um tempo na
UTI, tive que abdicar do trabalho para cuidar dele.
Assim me tornei uma mammaholic. Durante mais de um ano,
passei a viver exclusivamente para Matias.
No começo, achei que seria a maior moleza. Eu esperava viver
na Ilha Maternália debaixo de sombra e água fresca, apenas lambendo minha cria.
Seria como férias não remuneradas. Ou uma pausa justa e merecedora na vida de quem
acumulou horas extras demais no trabalho e nunca tinha sido premiada por isso.
Ledo engano.
Matias virou meu maior cliente, exigindo dedicação total em
tempo integral. Não há férias, nem fins de semana. Ele vem em primeiro lugar e seu
lema é “satisfação garantida ou um choro de volta”.
A intensidade do trabalho piorou. Agora ele também envolve
um componente físico, ou seja, correr o tempo todo atrás de um bebê que vive seu
momento de “mobilidade com ignorância”. De segunda a segunda continuo sem
horário para começar nem terminar o dia. Não há salário, mas tenho a maior
responsabilidade do mundo.
Nos últimos meses, retomei o lado profissional. Estou tentando
reinventar meu trabalho e adotei o home office como caminho. Os projetos estão escassos,
a remuneração, pífia, mas é o preço de ficar mais perto de Matias.
Dia desses ouvi um amigo falar de mim para um ex-cliente, por
telefone. Entre uma e outra brincadeira com meu ganho de peso, ele resumiu em
uma frase sua visão sobre a dedicação à maternidade: “A Rita? Ela não fez nada
no ano passado, mas agora voltou a trabalhar.”
Ser mãe é o emprego mais difícil do mundo. E, para piorar, é
um trabalho invisível.
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