sábado, 13 de dezembro de 2014

Nã nã ni nã não!

Você sabe dizer “não”? Não? Então aprenda com Matias. Aos 16 meses de idade, “não” é uma das palavras que ele mais domina na língua portuguesa.

Já foram tantos “Não coma essa caca do chão”, “Não jogue água fora da mamadeira”, “Não põe a mão no cocô”, não pra isso, não para aquilo, não para quase tudo, que a palavra entrou logo para o vocabulário de Matias.

Apenas recentemente li um artigo de um conceituado pediatra que dizia que os pais não devem falar tantos nãos para os bebês. Isso faria com que o significado da palavra ficasse banalizado e o bebê poderia ou desconsiderá-la ou superutilizá-la. Tarde demais para nós desta Ilha Maternália.  Matias tomou o segundo caminho - o da chuva de nãos.

Enquanto tentamos ensinar a utilidade de outras palavras como o “sim”, nos resta decodificar o significado de cada “não”. E são vários os tipos e as aplicações dessa palavrinha mágica.

Há os nãos bem categóricos, ditos de forma clara e seca, com a cabeça balançando de um lado para o outro, e que, em geral, estão associados à interrupção de uma atividade prazerosa:
“Matias, vamos embora do parque?”
“Não”.

Também existem os nãos que acontecem no meio de alguma brincadeira ou atividade lúdica. São, em geral, mais curtos e agudos:
“Matias, é aqui que encaixa a bolinha?”
“Ná."

Percebo alguns nãos duvidosos, aplicados em situações de dissimulação, que em geral acompanham um arregalar de olhos:
“Que cheirinho, hein, Matias! Fez cocô?”
“Não?!”

Matias possui nãos enfáticos muito eficazes contra uma mãe insistente com sua alimentação. Esses, em geral, são acompanhados por uma cara feia e um aceno negativo de mão:
“Quer mais feijão?”
“Nãããããããoo.”

Há os nãos que ecoam uma bronca. Matias repete a palavra como uma tentativa de aliviar a repreensão:
“Não pode subir na estante. Nã-nã-ni-nã-não!”
“Nã-não.”

Tão importantes quanto os nãos que querem dizer “não”, são os nãos que dizem “sim”. E Matias é mestre neles. Agudos e mais prolongados, lembram bastante um miado e são acompanhados por uma risadinha. Eles acontecem, por exemplo, quando Torero ataca Matias com uma chuva de beijos e depois pergunta:
“Posso dar mais beijo?”
“Nááááááum... hihihi.”
“Mas eu dou assim mesmo, schumack!”
“Hihihi... náááááum.”

Mas entre todos existe um não que me preocupa. É um não doído, sincero, que vem lá do fundo da alma. É um não inquestionável, com a voz baixa, olhar penetrante, cabeça e mãos em negação. Ele surge com uma experiência desagradável.  E pode vir acompanhado de choro. Aconteceu quando Matias provou meu frango com damasco, quando tomou – sem querer- uma chuveirada fria durante o banho e quando viu pela primeira vez o Papai Noel em carne, osso e fantasia.
“Mamãe, não. Não.”


Nessas horas, pego Matias no colo, com todo o aconchego que posso dar, e fico abraçada com ele por um tempão, até a sensação ruim passar. E se me perguntarem se estou cansada de segurá-lo ou se quero deixá-lo descansar em algum lugar, minha resposta será sempre a mesma: “Não.”



Matias vira um leão quando diz "não".

Um comentário:

  1. oi, amiga!
    passando aqui depois de um loooongo gap :)
    a técnica do abraço-amasso-sem-largar dizendo ininterruptos eu-te-amo sempre funcionam (ou assim eu creio!)
    beijos de damasco <3
    amor,
    m.

    ResponderExcluir