terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Mulher invisível

Nunca tomei chá de sumiço. Nem tive aulas com Harry Potter para aprender a desaparecer. Mas, depois que vim para a Ilha Maternália, me tornei uma mulher invisível.

Durante a gravidez, eu recebia todo tipo de mimo e atenção. Colhi os louros de quem carrega a semente para a continuidade da espécie. Todos demonstravam algum nível de preocupação com meu bem estar e a saúde do bebê. Eu estava comendo direito? Tinha muito sono? Pés inchados? Precisava de algo? Limão? Antiácido? Qualquer coisa, mesmo?

Esse carinho não vinha apenas dos conhecidos. Com meu barrigão eu era parada na rua por estranhos e celebrada como uma deusa da fertilidade.

Assim que Matias nasceu fui removida da calçada da fama e alçada sem escalas para o anonimato.

De uma hora para outra, as pessoas deixaram de perguntar por mim. Não importava mais se eu tinha dor, se sentia frio, se estava cansada ou com fome. Meu papel mudou de protagonista para coadjuvante na vida do meu bebê. E passei a existir de um jeito diferente. “Maria Rita? Quem? Ah, a mãe do Matias.”

Me senti como o personagem do livro de H.G.Wells, “O Homem Invisível”: um ser humano renegado, alijado e preterido.

Ser invisível tem lá seus contratempos.

Dia desses fui atropelada por uma senhora com seu carrinho de supermercado:
“Desculpa, moça, não te vi! Estava olhando para seu bebê. Doeu?”
“Doeu.” Mais no ego que no pé. Afinal, mesmo invisível eu ainda existo.

Foi difícil quando a invisibilidade tangenciou a família:
“O Matias melhorou da gripe?”
“Mãe, quem estava gripada era eu.”

Pior foi quando a invisibilidade chegou no círculo de amigos:
“Eu não vou no jantar hoje porque não estou bem.”
“Não precisa vir, mas traz o Matias!”

Quando perguntei para uma amiga, mãe de três, qual era a perspectiva de me livrar desse manto de invisibilidade, a resposta foi curta e grossa: “Uns dezoito anos. Até lá, pode ir se acostumando.”

Então me forcei a ver que ser invisível poderia ter suas vantagens.

Cabelo desgrenhado? Calça rasgada? Camisa babada? Pedaço de alface grudado no dente? Quem se importa? Eu podia me dar ao luxo de desprendimentos estéticos, porque ninguém repararia em mim. A invisibilidade poderia trazer liberdade.

Mas a maior surpresa veio no aniversário de um ano de Matias. Na pilha de presentes infantis endereçados a ele, havia um ou outro para mim. Um deles trazia um cartão, dizendo “Parabéns pelo seu primeiro ano como mãe.” Era de uma amiga, com filho pequeno, que assim como eu, sabe o que é ser invisível.

E assim percebi o segredo que deixa a zona fantasma da maternidade um lugar mais divertido: as mães não são invisíveis umas para as outras.


Eu, Maria Rita, exercendo minha invisibilidade ao carregar Matias no sling.

2 comentários:

  1. Linda Maria Rita se você esta invisível imagina o Torero kkkk o pai some de vez..em primeiro lugar vem o carinha com o furinho no queixo..depois e talvez você aí vem o carinha do furinho no queixo de novo e lá se vai esse lindo ciclo..as vezes a gente lembra..há é tem o pai kkkk faz parte...mas a delícia é que este trio de visíveis e invisíveis formam uma força poderosa...a gente ama esta família!!! beijos

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito do blog.
    Desde que te conheci, sabia que você seria um sucesso!
    Sua alegria de viver, sua espontaneidade, são contagiantes.
    Parabéns pelo blog, Matias.
    Esse blog é do Matias, não é?

    ResponderExcluir