sábado, 6 de dezembro de 2014

500 dias com ele

Há 500 dias vivo em uma ilha. A ilha Maternália.

Me lembro bem do dia em que vim parar aqui. Estava no salão de beleza, cortando o cabelo e fazendo mão, pé e depilação, quando de repente a bolsa estourou. Não, não foi a bolsa de valores. Muito menos minha bolsa de mão. Foi a bolsa que carregava Matias.

A chegada na Ilha Maternália foi via tsunami, apesar de uma gravidez em águas calmas. É que Matias quis vir antes do tempo e tive um parto prematuro. Matias mal nasceu e foi levado de mim direto para uma incubadora. Foram 23 dias de UTI, com muito choro, muito medo de perdê-lo. Até que a água baixou, uma nova ordem se estabeleceu e Matias saiu são e salvo do hospital. (A história de toda a gravidez e dos primeiros meses de Matias você encontra no blog Barrigudos, do UOL: http://barrigudos.blogosfera.uol.com.br/)

Por algum tempo vivi como uma náufraga isolada. Tínhamos tevê, computador, internet e banho quente. Mas nos primeiros meses como mãe havia pouca chance de utilizar esses luxos. As noites e os dias se confundiam e quem ditava meu sono era Matias. Fiquei com profundas olheiras e começava a sonhar quando piscava. Os cuidados pessoais foram para o brejo e, peluda, descabelada e com sobrancelhas de taturana, eu estava à beira de ser capturada pelo Ibama como espécie não catalogada. Torero, antes escritor, era um eficiente barqueiro que nos trazia suprimentos do mundo exterior.

Com o crescimento de Matias, a realidade na Ilha Maternália mudou. Ele passou a sentar, conseguiu engatinhar, fez um aninho, disparou a andar e está começando a falar. E eu consegui retomar atividades cotidianas triviais como escovar os dentes e passar condicionador no cabelo.

Há 500 dias descobri o que chamam de amor incondicional. Para minha surpresa, não é só achar o filho a criança mais linda do mundo. Nem é tão simples quanto colocá-lo em primeiro lugar e abdicar de coisas em prol dele.  É um sentimento profundo que faria com que eu desse a vida por Matias.

Percebi que existem várias ilhas como a minha, de todas as cores, formatos e tamanhos. Algumas contêm mais de uma criança. Outras têm inclusive mais de uma mãe. Há até ilhas habitadas por pães (pais que são mães). São ilhas e mais ilhas maternálias em todas as latitudes e longitudes do globo que se comunicam (mesmo com idiomas diferentes), trocam receitas, indicam leituras, dão dicas de médicos e de onde comprar roupas de bebês mais baratas. Juntas formamos um arquipélago. O grande arquipélago maternal.

Ilhoas maternas, saudações!
A partir de agora estarei a postos para trocar informações. Bons ventos e boa navegação!

Maria Rita, mãe do Matias.
Latitude: -23.530086
Longitude: -46.669927
e-mail: miss.barbi@uol.com.br



5 comentários:

  1. Pois é, é o trabalho mais árduo, mas ao mesmo tempo o mais bem pago. Um sorriso deles vale por um salário!

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    1. É verdade! Meio sorriso já basta!

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    2. PS, não sei pq saiu como anônimo, mas é o Marcelo Lyra! PS 2 - Nessa foto o Matias tá lindo e com um sorriso de Zé Roberto prestes a fazer um trocadilho. PS- 3, ao tentar publicar esses PSs, descobri pq saiu anônimo. Para publicar como não anônimo eles pedem uma tal de URL, sei lá eu o que é isso!

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  2. Seus lindos!!! Toda sorte do mundo e contem comigo sempre para registrar cada etapa emocionalmente querida da vida de vocês!!! saudades!!!

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    1. Querida Simone! Obrigada pelo carinho, sempre! Beijos mil!

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